segunda-feira, 3 de julho de 2017

As múltiplas relações de um escritor

Você já parou pra pensar quanto tempo um escritor levou para escrever um livro que você levou semanas para ler? Alguns levam meses, outros anos mexendo e remexendo no mesmo livro. Geralmente, um escritor ainda precisa lapidar, revisar, reescrever o que não ficou tão bom assim… Ou seja: ele não só passou muito tempo lidando com o mesmo texto, como ele passou muito tempo lidando com uma versão pior do que a que foi publicada.
Muitos leitores e especialmente escritores têm a impressão de que para poder falar que o livro é bom, o autor precisa amar profundamente todas as personagens, admirando suas qualidades e defeitos e jamais se enjoar delas – o que é uma ilusão.
Tem personagens que eu adoro, como se fossem pessoas vivas, minhas conhecidas. Isso não quer dizer que eu sempre tenha paciência com elas ou que queira vê-las todo dia. Às vezes preciso me afastar um pouquinho, dar um tempo na relação para que não fique um relacionamento excessivo. E às vezes eu canso delas também, tenho preguiça de voltar a escrever a sua história porque simplesmente eu lidei mais com elas do que gostaria.
Isso quer dizer que o livro ou as personagens são ruins? De jeito nenhum! Algumas coisas são lindas, mas não tanto a ponto de serem idolatradas todos os dias. Por fim, acontece muito o fenômeno oposto ao do autor que quer se promover sem fim e alega idolatrar todos os dias o próprio livro: o da rejeição. Eu já passei por isso e conheço outros que passaram: justamente por achar que um autor deve adorar tanto o próprio livro a ponto de nunca se cansar dele, muitos autores, quando se cansam, acham que o livro está ruim e o abandonam como uma obra mal feita.

Quer uma dica? Se você escreveu, lapidou, se dedicou e chegou, em algum momento a amar o trabalho que fez, não exija tanto do resultado final. Tem uma hora que a gente tem que deixar o julgamento aos leitores. 

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Como receber críticas

Eu não gosto de receber críticas. Acho importante, mas não sou masoquista. É muito mais gostoso receber elogios exagerados do que críticas sinceras. Se fosse fazer uma metáfora, seria como comer verduras em vez de encher a cara de brigadeiro. A primeira opção não é a mais agradável, mas é a que te faz mais bem, a longo prazo.
 Para enfrentar essa difícil tarefa, no entanto, existem algumas astúcias. Primeiro, procurar quem vai fazer uma boa crítica. Uma boa crítica, a meu ver, aponta o que precisa ser apontado sem ofender. Escancara para você tudo o que precisa ser mudado no seu trabalho, mas jamais conta suas faltas para os seus amigos em conversas de corredor. Um bom crítico respeita e tem coragem para ser sincero.
Outra astúcia é perceber o nível da crítica. Se você escreveu um texto e as críticas vão desde o nível mais básico, como gramática, clareza ou coesão do texto, tem que ter humildade e estudar mais português. Se as críticas estão no conteúdo, na linha de raciocínio e em aspectos mais literários, veja o lado bom da coisa: escrever você já sabe, só precisa aprimorar a técnica para se tornar um bom escritor.
Não acho que nenhuma crítica deva ser ignorada, mas devemos analisar o tipo de crítica e decidir como nos posicionar diante dela. Tem crítica que é senso comum, técnica, dica publicitária. Tem crítica que tem mais a ver com o posicionamento pessoal de quem criticou. Se eu escrever uma história com personagens homossexuais e meu crítico achar que eu devo tirar isso porque vai contra os valores conservadores, que importância eu vou dar? A importância de saber que meu texto incomoda homofóbicos, o que não é um ponto negativo só porque o meu leitor achou que era.

Por fim, é preciso aprender a lidar com sentimentos. Depois de receber críticas, mesmo que sejam muito bem fundamentadas, pode bater um desânimo e você começar a achar que não nasceu pra isso. Eu acho que todo mundo nasceu pra crescer e aprender. Saber dar um tempo, olhar o texto depois pra reescrever e mesmo dar-se conta de quanta coisa boa recebe críticas pode ajudar a lidar com esse baque inicial. Não acho que ninguém deveria desistir por ele, mas aprender a lidar e seguir em frente.